Guillermo Tella, architect + urban planner

Diseño web

JC producción

Enfoques

Presentación de
reflexiones sobre los
procesos de
estructuración territorial
de la ciudad

In Focus

Presentation of
reflections about
processes of the
territorial structure
in the city

Uma rachadura na cidade

Rupturas e continuidades em Buenos Aires

O processo crescente de dispersão e de fragmentação territorial a que assistem as metrópoles, ante ao progressivo desvanecimento da tradicional “cidade compacta”, conduz a uma fratura das tradicionais tendências de crescimento das cidades. O esvaziamento das urbes consolidadas, a descentralização, o desenvolvimento dos sistemas de infraestrutura viária, o aumento da mobilidade urbana e o incremento da ocupação do solo incidem no surgimento de peças urbanas como ilhas autônomas, em justaposição e convivência com bolsas de marginalidade, vazios urbanos e pobreza.

Através do tempo, numerosos estudos centrados na questão urbana identificaram a cidade em relação com a hierarquia de funções e de equipamentos existentes sobre um território. A trilha traçada permite direcionar a atenção nos fenômenos de apropriação
de centralidade territoriais.

No marco do capitalismo industrial (fordista), a meados do século XX se consolidou a “metrópole moderna”, com uma estrutura hierárquica de relações funcionais e sociais. No processo de crescimento, a cidade invadia o espaço rural circundante, dando lugar a uma expansão urbana contínua, com uma clara distinção entre campo e cidade. Os núcleos centrais, de alta densidade, eram habitados pela burguesia, e os limites urbanos, como “periferias-dormitório”, habitados pelo
proletariado industrial.

Dado que o centro decidia e controlava os destinos da periferia, era a indústria e a residência dos setores sociais baixos os que se moviam para os subúrbios e consolidavam um crescimento relativamente compacto. Com o qual, a cidade tradicional, embora oferecesse uma distinção entre a paisagem urbana e a paisagem rural, apresentava uma forte dependência econômica, social e cultural do campo.

Desta perspectiva, a periferia foi entendida como o “não-centro”, e constituía aquela parte da cidade que rodeava o núcleo consolidado. Carente de estrutura funcional autônoma, de atributos de centralidade, de identidade e de sentido de pertencimento, era o lugar onde se habitava por necessidade, com baixa densidade e homogênea composição social. (cfr. Bozzano, 1999).

Contudo, em tempos de capitalismo avançado (pós fordista), o progressivo desvanecimento da tradicional “cidade compacta” evidenciado nas últimas décadas, cada vez mais dispersa e fragmentada, constituiu um tema recorrente no estudos urbanos, que começaram a manifestar as limitações dos conceitos de “centro” e de “periferia” para explicar a realidade urbana que neles se observa. (Soja, 1996).

Em tempos da super modernidade, de super abundância de acontecimentos e de individualização de referências, os componentes se adicionam sem destruírem-se; contexto que emergem os não-lugares como espaços anônimos de confluência. O lugar é considerado por M. Augé (2000) como o espaço do encontro entre uns e outros, onde se expressam a identidade, a relação e a história, e o não-lugar como o espaço onde nada disso sucede. A oposição entre lugar e não-lugar evidencia o desaparecimento da fronteira entre o privado e o público, e o surgimento de “espaços de consumo”, de caráter não identificável, onde a história é transformada em elemento
de espetáculo.

Como definir o fenômeno atual

Não se trata de um processo de urbanização porque a cidade não cresce em “mancha”, por expansão contínua e com concentração em um núcleo central. Tão pouco é uma suburbanização devido a que não se observa um crescimento urbano em anéis compactos em torno a cidade central. Não são suficientemente explicativas as tendências de periurbanização, que oferecem uma integração a dinâmica metropolitana dos antigos núcleos rurais. Por outro lado, a difusão das atividades urbanas nos espaços rurais, entendidas
em termos de Dematteis (1998) como rural-
urbanização, também parecem
pouco abrangentes.

Finalmente, não é possível falar de efeitos associados a fases culminantes do “ciclo vital” da cidade – como apontam P. Hall e D. Hay (1980) – a partir de processos de desurbanização, como declive demográfico, ou de contraurbanização, como recuperação do núcleo central. Este ciclo urbano, em mudança, parecia corresponder com aquele que G. Dupuy (1991) denomina como os “novos territórios do automóvil”, no contexto de um processo de dispersão suburbana conhecido como urban sprawl, que tende a dispersar a população e a concentrar atividades de modo de exurbanização o edge cities. (cfr. Garreau 1992).

Em consequência, na nova realidade urbana, a crescente mobilidade pendular, a expansão e complexidade de usos, a multiplicação de redes e fluxos, e a dissolução de unidades territoriais convencionais atentam contra a capacidade explicativa das tradicionais definições sustentadas em limiares de densidade e deslocamentos. A descentralização do terciário, o esvaziamento das áreas consolidadas, o aumento da mobilidade intra-urbana e o exponencial incremento da ocupação do solo se encontram na base de um processo de dispersão periférica, onde convivem bolsas de marginalidade com centros de negócios, de modo de peças autônomas que se justapõem
em forma descontínua entre
terrenos baldios.

O cenário levantado da conta de um processo específico de transformações urbanas que não pode ser descrito como uma simples suburbanização de atividades econômicas. Em Buenos Aires presenciamos um processo de reestruturação da centralidade que transforma todos os âmbitos urbanos e suburbanos. Funções comerciais, de escritórios e de entretenimentos mudam de maneira substancial. A lógica de localização que caracteriza esta reestruturação urbana em grande parte se hospeda aos sistemas de centralidade seculares desta cidade, e gera problemas sociais, funcionais e ambientais específicos que se tornam indispensáveis de se enfrentar.
(Tella, 2001).

Componentes distintivos do sistema

As áreas centrais da cidade constituem as zonas com maior acessibilidade e as de maior concentração e diversidade de atividades; atributos principais para definir um centro. Isto conduz ao natural deslocamento das habitações dos lugares centrais para as periferias, assim como as zonas de maior densidade frequentemente concentram so eixos principais, e a população com menor renda localiza-se geralmente sobre as áreas intersticiais ou de
menor acessibilidade.

Com o qual se produz de maneira contínua: uma substituição de usos (de rural a urbano, de residencial a comercial), uma diferenciação espacial (de densidade de povoamento e de concentração de atividades) e uma segregação territorial (de equipamentos por níveis socioeconômicos). Neste marco, o particular caso de Buenos Aires é possível reconhecer três componentes distintos do sistema de centralidade: a área central, os subcentros tradicionais e as novas centralidades.

– Área central: A área fundamental da cidade de Buenos aires concentra o maior número de viagens e de atividades em um reduzido espaço, assim mesmo, podem identificar-se em seu interior espacialidades de forte atração, tais como as áreas de transferência, e de concentrações diversas (comerciais, políticas, bancárias, financeiras, institucionais, culturais, recreativas). Entre elas, convive uma trama de atividades e de práticas sociais que articulam ambas espacialidades. (Bozzano, 1999).

– Subcentros tradicionais: Desde a sua chegada, assentados sobre as terras altas, as ferrovias cobriam o território com mais de 150 km de vias, que deram origem a mais de 90 por cento dos subcentros atuais. Através do tempo, a rede viária foi acomodando seu traçado nas ferrovias, e o transporte público imprimiu fluidez e continuidade comercial aos
corredores veiculares.

– Novas centralidades: Novas formas de concentração e de dispersão manifestam a vocação para uma economia de serviços na cidade, que induz a disseminação das atividades sobre o território, com migração de atividades das áreas centrais para as bordas metropolitanas; conformando aglutinamentos insulares de pequenos fragmentos urbanizados entrelaçados sobre entornos não urbanos. Esta situação manifesta uma relação de dicotomia entre processos que tendem a uma maior integração econômica mas, também, a uma maior
dispersão espacial.

No sistema de centralidades de Buenos Aires se põe como manifesto, então, uma situação de forte tensão entre a continuidade de algumas tendências tradicionais de reprodução e a ruptura de outras, ante a emergência de novas lógicas de concentração de atividades,
de mobilidade intraurbana e de
apropriação do espaço.

Os padrões territoriais identificados

A partir desta perspectiva, se identificou dez padrões territoriais que buscam definir o novo cenário metropolitano de Buenos Aires:

– Consolidação seletiva: A configuração metropolitana apresenta dois aspectos principais de crescimento e de consolidação territorial, a partir dos quais a mancha urbana se qualifica, densifica e expande: o predomínio dos setores centrais sobre os âmbitos periféricos, e o predomínio dos eixos principais sobre
os espaços intersticiais.

– Monocentralidade dominante: A aglomeração urbana se conforma a partir de uma forte estrutura monocêntrica, em torno da área de fundação da cidade, sobre a que conflui um encadeiamento radial de subcentralidades urbanas de diferentes hierarquias, alinhadas sobre a axialidade dos eixos ferroviários e confirmadas pela confluência de
corredores veiculares.

– Polarização urbana: A disseminação sobre o território de uma série de novos artefatos urbanísticos, contentores de atividades terciárias, produz uma rachadura na cidade através da instalação de uma nova trama de centralidades que polariza a estrutura metropolitana, gera ilhas territoriais e consagra um sistema reticular de mobilidade a partir da lógica do automóvel particular.

Âmbitos contentores: Enquanto que os centros tradicionais são utilizados pelos setores baixos da sociedade, estruturados a partir da continuidade que oferece o transporte público e da “rua” como âmbito de integração, os setores médios e altos se apropriam das novas centralidades, a partir de um espaço de caráter privado que funciona como suporte coletivo
das práticas sociais.

– Diferenciação tipológica: Este processo de aparecimento de ilhas territoriais se manifesta ao menos em três tipologias claramente diferenciadas: (a) sobre uma expansão metropolitana, com dependência do sistema viário; (b) sobre uma centralidade consolidada, com apropriação de sinergias territoriais; e (c) sobre um centro local-residencial, com integração
a trama urbana.

– Tipologias metropolitanas: A insularidade sobre expansão metropolitana se compõe por artefatos urbanísticos que apresentam áreas de influência de escala metropolitana; vinculações diretas com o sistema de tronco de mobilidade veicular; baixa ocupação, consolidação e articulação com o entorno urbano; e uma apropriação dos atributos de
acessibilidade da zona.

– Tipologias urbanas: A insularidade sobre centralidade consolidada aparece composta por artefatos urbanísticos que apresentam áreas de influência de escala urbana, vinculações diretas com importantes corredores comerciais, densa concentração de atividades terciárias do entorno urbano e destacamento ao sistema de centralidade da zona.

– Tipologias locais: A insularidades sobre centro local-residencial se conforma por artefatos urbanísticos que apresentam áreas de influência de escala local, vinculações diretas com artérias comerciais de vizinhança, inserção em um tecido residencial consolidado com baixa densidade de construção e populacional, e integração a dinâmica
sócio-urbana da zona.

– Articulação sistêmica: Em consequência, convivem na região metropolitana de Buenos Aires dois sistemas de centralidade: (a) a dos centros tradicionais e (b) a dos novos centros. Ambos sistemas, de relativa autonomia e interação conflitiva, se articulam em um nó dominante: a área central da cidade, e ele explica o forte caráter monocêntrico que, desde suas origens, esta ainda ostenta. (Tella, 2003).

Reconstrução da identidade do público

Este modelo de organização do território metropolitano, marcado por particulares lógicas de mobilidade, de fornecimento, de recreação e de produção, conduz a um tipo de cidade dispersa e fragmentada, fechada e excludente, e atenta contra os valores da cidade tradicional. Tradicionalmente, a praça era o lugar de abastecimento público, do comércio de alimentos perecíveis. Ao mesmo tempo, constituía um dos escassos âmbitos urbanos em que, além da sua função de abastecimento, se desempenhavam como articuladores sociais, fortalecendo as
relações de vizinhança.

Em Buenos Aires se manifesta um certo paralelismo entre a ubiquidade do mercado como realidade absoluta e o modo em que suas ferramentas globais, a armação funcional de uma economia transnacional, se implantam sobre sistemas territoriais prévios. Sem promover uma tábula rasa, considerando o espaço como uma sorte de áreas desejáveis e conexões rodoviárias eficientes, este modo de operar sobre o território busca decompor e desarticular a cidade preexistente, e a
vazia de valores e conteúdos.

A mudança profunda que resulta de passar de um sistema aberto e inclusivo, como é o tecido tradicional da cidade, a este novo esquema já acompanhado por mudanças de conduta do homem urbano. Sucede que, mediante uma nova rede de recintos e conectores, se rompe a interioridade da cidade redefinindo a permanência e a figura do cidadão. Contrasta neste cenário a função de Estado, outrora gestor do bem público e hoje identificado com o gerenciamento imobiliário, com a inversão transnacional, direcionando recursos fiscais a obras de melhoramentos de áreas privilegiadas em detrimento de áreas com profundas necessidades insatisfeitas.

Buenos Aires mostra nestes tempos como sua subordinação a novos modelos de cidade e de disciplina social, o da cidade global e o da cidadania de consumo, desarticula o contrato fundacional representado em sua trama indiana. Cruzada por justaposições funcionais e ferida por exclusões sociais, aquela trama que
até não muito tempo funcionava como
integradora de bairros, humores e
vivências distintas, aprece não ser hoje um
espaço de participação e resulta cheia de
violências e temores.

Para uma integração das insulas

A desarticulação por desuso do espaço público e da rua, o encapsulamento de funções de recreação em contentores do tipo semi-público e a dependência do transporte veicular privado mudam a vida urbana e desativam os ritmos comuns do passeio do bairro onde os vizinhos marcavam uma velocidade tão associada a medida do lote. A perda de uma estrutura tradicional como a cidade e a liberação em formas violentas das fricções geradas pela convivência social destroem o sentido profundo de habitar. Ao fazer-lo, se perde o marco referencial que guia o comportamento social, e regenerar os laços da comunidade torna-
se uma árdua tarefa.

É interessante notar como estes artefatos se convertem em novas pseudo-praças para o espalhamento-consumista dos cidadãos, que ostentam direito de admissão e permanência restringida de público por parte de seus proprietários. Tratando-se de estruturas fundamentalmente centrípetas, desagregam no exterior mediante a dissolução do pedestal
comercial tradicional.

Só a partir da revisão dos processos profundos e estruturais que afetam hoje Buenos Aires, tanto em sua dimensão conceitual e instituindo como naquela construída e instituída, será possível delinear respostas. A presença que em distintas escalas geram novas centralidades na cidade, reconhece uma justaposição do sistema tradicional de cidade com
um novo e dominante.

A partir desta perspectiva, as estratégias possíveis pareceram ser: potencializar nós de concentração de atividades de caráter social, econômico e cultural; corrigir a distribuição territorial de equipamentos “de prestígio”; incorporar as dinâmicas locais; favorecer traçados que permitam a permeabilidade e o contato entre partes; definir novas formas de articular o público e o privado, o individual e o coletivo, e configurar um tecido conectivo, contínuo e equilibrado.

Dado que este fenômeno de ruptura nas tendências tradicionais de conformação de centralidade se encontra atravessando uma fase crucial, se torna indispensável gerar novos mecanismos de produção, avaliar seus efeitos e propor respostas alternativas as lógicas de fragmentação instaladas
na cidade.

Fontes citadas

– Augé, Marc. (2000), Los no lugares: Espacios del anonimato. Una antropología de la sobremodernidad. Barcelona: Gedisa Editorial.
– Bozzano, Horacio. (1999), Le territoire mètropolitaine. En: Les territoires de la restructuration industrielle dans la Region Metropolitaine de Buenos Aires. Universidad de París III-Sorbonne Nouvelle, Tesis Doctoral.
– Dematteis, Giuseppe. (1998), “Suburbanización y periurbanización. Ciudades anglosajonas y ciudades latinas”. En: Francisco Javier Monclús Ed.; La ciudad dispersa: Suburbanización y nuevas periferias. Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona; pp. 17-33.
– Dupuy, Guy. (1991), Les territoires de l´automobile. París: Anthropos-Economica.
– Garreau, Joel. (1992), Edge City. New York:
Anchor Books.

– Hall, Peter y Hay, David. (1980), Growth Centers in the European Urban System. Londres: Heinemann.
– Soja, Edward. (1996), Six Discourses on the Postmetropolis. Imagining Cities, Routledge.
– Tella, Guillermo. (2001), La modernización tardía de una metrópolis semiperiférica. El caso de Buenos Aires y sus transformaciones socioterritoriales recientes. Madrid, España: Revista Urban Nº 6, Departamento de Urbanística y Ordenación del Territorio, Escuela Técnica Superior de Arquitectura, Universidad Politécnica de Madrid; pp. 61-76.
– Tella, Guillermo. (2003), “La mutación de enclaves urbanísticos en Buenos Aires”. Guadalajara (México): Revista Espiral, Estudios sobre Estado y Sociedad, Volumen IX (septiembre-diciembre); Universidad de Guadalajara; Departamento de Geografía y Ordenación Territorial; pp. 211-237.

 © Guillermo Tella
Em: Tella, Guillermo. (2012), «Uma rachadura na cidade: rupturas e continuidades. Buenos Aires, Argentina”.   ArchDaily Brazil (Julho 16).

Un crack en la ciudad

Rupturas y continuidades en Buenos Aires

El proceso creciente de dispersión y de fragmentación territorial al que asisten las metrópolis, ante el progresivo desvanecimiento de la tradicional “ciudad compacta”, conduce a una fractura de las tradicionales tendencias de crecimiento de las ciudades. El vaciamiento de las áreas consolidadas, la descentralización del terciario avanzado, el desarrollo de los sistemas de infraestructura viaria, el aumento de la movilidad intraurbana y el incremento de la ocupación del suelo inciden en el surgimiento de piezas urbanas como ínsulas autónomas, en yuxtaposición y convivencia con bolsas de marginalidad, vacancia y pobreza.

A través del tiempo, numerosos estudios centrados en la cuestión urbana identificaron a la ciudad en relación con la jerarquía de funciones y de equipamientos existentes sobre un territorio. La huella trazada permite centrar la atención en los fenómenos de apropiación de centralidades territoriales.

En el marco del capitalismo industrial (fordista), a mediados del siglo XX se consolidó la “metrópolis moderna”, con una estructura jerárquica de relaciones funcionales y sociales. En el proceso de crecimiento, la ciudad invadía el espacio rural circundante, dando lugar a una expansión urbana continua, en mancha de aceite, con una neta separación entre campo y ciudad. Los núcleos centrales, de alta densidad, eran habitados por la burguesía, y los bordes urbanos, a modo de “periferias-dormitorio”, por el proletariado industrial.

Dado que el centro decidía y controlaba los destinos de la periferia, era la industria y la residencia de los sectores sociales bajos los que se desplazaban hacia los suburbios y consolidaban un crecimiento relativamente compacto. Con lo cuál, la ciudad tradicional, si bien ofrecía una distinción entre el paisaje urbano y el paisaje rural, presentaba una fuerte dependencia económica, social y cultural del campo.

Desde esta perspectiva, la periferia fue entendida como el “no-centro”, y constituía aquella parte de la ciudad que rodeaba al núcleo consolidado. Carente de estructura funcional autónoma, de atributos de centralidad, de identidad y de sentido de pertenencia, era el lugar donde se habitaba por necesidad, con baja densidad y homogénea composición social. (cfr. Bozzano, 1999).

Sin embargo, en tiempos del capitalismo avanzado (postfordista), el progresivo desvanecimiento de la tradicional “ciudad compacta” evidenciado en las últimas décadas, cada vez más dispersa y fragmentada, ha constituido un tema recurrente en los estudios urbanos, que comenzaron a manifestar las limitaciones de los conceptos de “centro” y de “periferia” para explicar la realidad urbana que en ellos se observa. (Soja, 1996).

En tiempos de la sobremodernidad, de superabundancia de acontecimientos y de individualización de referencias, los componentes se adicionan sin destruirse; contexto en el que emergen los no-lugares como espacios anónimos de confluencia. El lugar es considerado por M. Augé (2000) como el espacio del encuentro entre unos y otros, donde se expresan la identidad, la relación y la historia, y el no-lugar como el espacio donde nada de ello se sucede. La oposición entre lugar y no-lugar evidencia la desaparición de la frontera entre lo privado y lo público, y el surgimiento de “espacios del consumo”, de carácter no identitario, donde la historia es transformada en elemento de espectáculo.

Cómo definir el fenómeno actual

¿Cómo definir entonces el fenómeno actual? No se trata de un proceso de urbanización porque la ciudad no crece en “mancha de aceite”, por expansión continua y con concentración en un núcleo central. Tampoco es una suburbanización debido a que se no observa un crecimiento urbano en coronas compactas en torno a la ciudad central. No resultan suficientemente explicativas las tendencias de periurbanización, que ofrecen una integración a la dinámica metropolitana de los antiguos núcleos rurales. Por otro lado, la difusión de las actividades urbanas hacia los espacios rurales, entendidas en términos de Dematteis (1998) como rururbanización, también parecen poco abarcativas.

Finalmente, no es posible hablar de efectos asociados a fases culminares del “ciclo vital” de la ciudad –como señalan P. Hall y D. Hay (1980)–, a partir de procesos de desurbanización, como declive demográfico, o de contraurbanización, como recuperación del núcleo central. Este ciclo urbano, en cambio, pareciera corresponder con aquello que G. Dupuy (1991) denomina como los “nuevos territorios del automóvil”, en el contexto de un proceso de dispersión suburbana conocido como urban sprawl, que tiende a dispersar la población y a concentrar actividades a modo de exurbanización o edge cities. (cfr. Garreau 1992).

En consecuencia, en la nueva realidad urbana, la creciente movilidad pendular, la expansión y complejización de usos, la multiplicación de redes y flujos, y la disolución de unidades territoriales convencionales atentan contra la capacidad explicativa de las tradicionales definiciones sustentadas en umbrales de densidad y de desplazamientos. La descentralización del terciario, el vaciamiento de las áreas consolidadas, el aumento de la movilidad intra-urbana y el exponencial incremento de la ocupación del suelo se encuentran en la base de un proceso de dispersión periférica, en donde conviven bolsas de marginalidad con centros de negocios, a modo de piezas autónomas que se yuxtaponen en forma discontinua entre terrains vagues.

El escenario planteado da cuenta de un proceso específico de transformaciones urbanas que no puede ser descrito como una simple suburbanización de actividades económicas. En Buenos Aires presenciamos un proceso de reestructuración de la centralidad que transforma todos los ámbitos urbanos y suburbanos. Funciones comerciales, de oficinas y de entretenimientos mutan de manera sustancial. La lógica de ubicación que caracteriza a esta reestructuración urbana en gran parte se acoge a los sistemas de centralidad seculares de esta ciudad, y genera problemas sociales, funcionales y ambientales específicos que resulta indispensable
afrontar. (Tella, 2001).

Componentes distintivos del sistema

Las áreas centrales de la ciudad constituyen las zonas con mayor accesibilidad y las de mayor concentración y diversidad de actividades; atributos principales para definir un centro. Esto conduce al natural desplazamiento de las viviendas de los lugares centrales hacia las periferias, así como las zonas de mayor densidad suelen concentrarse sobre los ejes principales, y la población con menores ingresos se localiza generalmente sobre las áreas intersticiales
o de menor accesibilidad.

Con lo cual se produce de manera continua: una sustitución de usos (de rural a urbano, de residencial a comercial), una diferenciación espacial (de densidad de población y de concentración de actividades) y una segregación territorial (de equipamientos por niveles socioeconómicos). En este marco, el particular caso de Buenos Aires es posible reconocer tres componentes distintivos del sistema de centralidad: el área central, los subcentros tradicionales y las nuevas centralidades.

-Área central: El área fundacional de la ciudad de Buenos Aires concentra el mayor número de viajes y de actividades en un reducido espacio. Asimismo, pueden identificarse en su interior espacialidades de fuerte atracción, tales como las áreas de transferencia, y de concentraciones diversas (comerciales, políticas, bancarias, financieras, institucionales, culturales, recreativas). Entre ellas convive una trama de actividades y de prácticas sociales que articulan ambas espacialidades. (Bozzano, 1999).

-Subcentros tradicionales: Desde su arribo, asentados sobre las tierras altas, los ferrocarriles surcaron el territorio con más de 150 kilómetros de vías, que dieron origen a más del 90 por ciento de los subcentros actuales. A través del tiempo, la red vial fue acomodando su traza respecto de la ferroviaria, y el transporte público le imprimió fluidez y continuidad comercial a los corredores vehiculares.

-Nuevas centralidades: Nuevas formas de concentración y de dispersión manifiestan la vocación hacia una economía de servicios en la ciudad, que induce a la diseminación de las actividades sobre el territorio, con migración de actividades de las áreas centrales hacia los bordes metropolitanos; conformando aglutinamientos insulares de pequeños fragmentos urbanizados entrelazados sobre entornos no urbanos. Esta situación manifiesta una relación dicotómica entre procesos que tienden a una mayor integración económica pero, también, a una mayor
dispersión espacial.

En el sistema de centralidades de Buenos Aires se pone de manifiesto, entonces, una situación de fuerte tensión entre la continuidad de algunas tendencias tradicionales de reproducción y la ruptura de otras, ante a la emergencia de nuevas lógicas de concentración de actividades, de movilidad intraurbana y de
apropiación del espacio.

Los patrones territoriales identificados

Desde esta perspectiva, se han identificado diez patrones territoriales que intentan definir el nuevo escenario metropolitano de Buenos Aires:

-Consolidación selectiva: La configuración metropolitana presenta dos aspectos principales de crecimiento y de consolidación territorial, a partir de los cuales la mancha urbana se cualifica, densifica y expande: el predominio de los sectores centrales por sobre los ámbitos periféricos, y el predominio de los ejes principales por sobre los espacios intersticiales.

-Monocentralidad dominante: La aglomeración urbana se conforma a partir de una fuerte estructura monocéntrica, en torno al área fundacional de la ciudad, sobre la que confluye un encadenamiento radial de subcentralidades urbanas de diferentes jerarquías, alineadas sobre la axialidad de los ejes ferroviarios y confirmadas por la confluencia de
corredores vehiculares.

-Polarización urbana: La diseminación sobre el territorio de una serie de nuevos artefactos urbanísticos, contenedores de actividades terciarias, produce un crack en la ciudad a través de la instalación de una nueva trama de centralidades que polariza la estructura metropolitana, genera ínsulas territoriales y consagra un sistema reticular de movilidad desde la lógica del automóvil particular.

-Ámbitos contenedores: Mientras que los centros tradicionales son utilizados por los sectores bajos de la sociedad, estructurados a partir de la continuidad que ofrece el transporte público y de “la calle” como ámbito de integración, los sectores medios y altos se apropian de las nuevas centralidades, a partir de un espacio de carácter privado que funciona como soporte colectivo
de las prácticas sociales.

-Diferenciación tipológica: Este proceso de insularización territorial se manifiesta al menos en tres tipologías claramente diferenciadas: (a) sobre una expansión metropolitana, con dependencia del sistema viario; (b) sobre una centralidad consolidada, con apropiación de sinergias territoriales; y (c) sobre un centro local-residencial, con integración
a la trama urbana.

-Tipologías metropolitanas: La insularidad sobre expansión metropolitana se compone por artefactos urbanísticos que presentan áreas de influencia de escala metropolitana; vinculaciones directas con el sistema troncal de movilidad vehicular; baja ocupación, consolidación y articulación con el entorno urbano; y una apropiación de los atributos de
accesibilidad de la zona.

-Tipologías urbanas: La insularidad sobre centralidad consolidada aparece compuesta por artefactos urbanísticos que presentan áreas de influencia de escala urbana, vinculaciones directas con importantes corredores comerciales, densa concentración de actividades terciarias del entorno urbano y adscripción al sistema de centralidad de la zona.

-Tipologías locales: La insularidad sobre centro local-residencial se conforma por artefactos urbanísticos que presentan áreas de influencia de escala local, vinculaciones directas con arterias comerciales vecinales, inserción en un tejido residencial consolidado con baja densidad edilicia y poblacional, e integración a la dinámica socio-urbana
de la zona.

-Articulación sistémica: En consecuencia, conviven en la región metropolitana de Buenos Aires dos sistemas de centralidad: (a) la de los centros tradicionales y (b) la de nuevos centros. Ambos sistemas, de relativa autonomía e interacción conflictiva, se articulan en un nodo dominante: el área central de la ciudad, y ello explica el fuerte carácter monocéntrico que, desde sus orígenes, ésta aún ostenta. (Tella, 2003).

Reconstrucción identitaria de lo público

Este modelo de organización del territorio metropolitano, signado por particulares lógicas de movilidad, de aprovisionamiento, de recreación y de producción, conduce a un tipo de ciudad dispersa y fragmentada, cerrada y excluyente, y atenta contra los valores de la ciudad tradicional. Tradicionalmente, la plaza era el lugar del abasto público, del comercio de alimentos perecederos. Al mismo tiempo, constituía uno de los escasos ámbitos urbanos en los que, además de su función de abastecimiento, se desempeñaban como articuladores sociales, fortaleciendo las
relaciones de vecindad.

En Buenos Aires se manifiesta un cierto paralelismo entre la ubicuidad del mercado como realidad absoluta y el modo en que sus herramientas globales, el andamiaje funcional de una economía transnacional, se implantan sobre sistemas territoriales previos. Sin promover una tabula rassa, considerando al espacio como una suerte de áreas deseables y conexiones viales eficientes, este modo de operar sobre el territorio logra descomponer y desarticular a la ciudad preexistente, y la vacía de valores y contenidos.

El cambio profundo que resulta de pasar de un sistema abierto e inclusivo, como es el tejido tradicional de la ciudad, a este nuevo esquema va acompañado por cambios de conducta del hombre urbano. Sucede que, mediante una nueva red de recintos y conectores, se rompe la interioridad de la ciudad redefiniendo la pertenencia y la figura del ciudadano. Contrasta en este escenario la función del Estado, otrora gestor del bien público y hoy identificado con el gerenciamiento inmobiliario, con la inversión transnacional, direccionando recursos fiscales a obras de mejoramiento de áreas privilegiadas en detrimento de áreas con profundas necesidades insatisfechas.

Buenos Aires muestra en estos tiempos cómo su subordinación a nuevos modelos de ciudad y de disciplinamiento social, el de la ciudad global y el de la ciudadanía de consumo, desarticula el contrato fundacional representado en su trama indiana. Tachada por yuxtaposiciones funcionales y herida por exclusiones sociales, aquella trama que hasta no hace mucho tiempo funcionaba como integradora de barrios, humores y vivencias distintas, parece no ser hoy un espacio de participación y sí resulta lleno de
violencias y temores.

Hacia una integración de las ínsulas

La desarticulación por desuso del espacio público y de la calle, el encapsulamiento de funciones de recreación en contenedores de tipo semi-público y la dependencia del transporte vehicular privado cambian la vida urbana y desactivan los ritmos comunes del paseo barrial donde los vecinos marcaban una velocidad tan asociada a la medida del loteo. La pérdida de una estructura tradicional como la ciudad y la liberación en formas violentas de las fricciones generadas por la convivencia social demuelen el sentido profundo del habitar. Al hacerlo, se pierde el marco referencial que guía el comportamiento social, y regenerar los lazos de comunidad deviene en una ardua tarea.

Resulta interesante observar cómo estos artefactos se convierten en nuevas pseudo-plazas para el esparcimiento-consumo de los ciudadanos, que ostentan derecho de admisión y permanencia restringida de público por parte de sus propietarios. Tratándose de estructuras fundamentalmente centrípetas, disgregan en el exterior mediante la disolución del zócalo comercial tradicional.

Sólo a partir de la revisión de los procesos profundos y estructurales que afectan hoy a Buenos Aires, tanto en su dimensión conceptual e instituyente como en aquella construida e instituida, será posible delinear respuestas. La presencia que en distintas escalas generan nuevas centralidades en la ciudad, reconoce una yuxtaposición del sistema tradicional de ciudad con
uno nuevo y dominante.

Desde esta perspectiva, las estrategias posibles parecieran ser: potencializar nodos de concentración de actividades de carácter social, económico y cultural; corregir la distribución territorial de equipamientos “de prestigio”; incorporar las dinámicas locales; favorecer trazados que permitan la permeabilidad y el contacto entre partes; definir nuevas formas de articular lo público y lo privado, lo individual y lo colectivo, y configurar un tejido conectivo, continuo y equilibrado.

Dado que este fenómeno de ruptura en las tendencias tradicionales de conformación de centralidad se encuentra atravesando una fase crucial, se torna indispensable generar nuevos mecanismos de producción, evaluar sus efectos y proponer repuestas alternativas a las lógicas de fragmentación
instaladas en la ciudad.

fuentes citadas

- Augé, Marc. (2000), Los no lugares: Espacios del anonimato. Una antropología de la sobremodernidad. Barcelona: Gedisa Editorial.
- Bozzano, Horacio. (1999), Le territoire mètropolitaine. En: Les territoires de la restructuration industrielle dans la Region Metropolitaine de Buenos Aires. Universidad de París III-Sorbonne Nouvelle, Tesis Doctoral.
- Dematteis, Giuseppe. (1998), “Suburbanización y periurbanización. Ciudades anglosajonas y ciudades latinas”. En: Francisco Javier Monclús Ed.; La ciudad dispersa: Suburbanización y nuevas periferias. Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona; pp. 17-33.
- Dupuy, Guy. (1991), Les territoires de l´automobile. París: Anthropos-Economica.
- Garreau, Joel. (1992), Edge City. New York:
Anchor Books.

- Hall, Peter y Hay, David. (1980), Growth Centers in the European Urban System. Londres: Heinemann.
- Soja, Edward. (1996), Six Discourses on the Postmetropolis. Imagining Cities, Routledge.
- Tella, Guillermo. (2001), La modernización tardía de una metrópolis semiperiférica. El caso de Buenos Aires y sus transformaciones socioterritoriales recientes. Madrid, España: Revista Urban Nº 6, Departamento de Urbanística y Ordenación del Territorio, Escuela Técnica Superior de Arquitectura, Universidad Politécnica de Madrid; pp. 61-76.
- Tella, Guillermo. (2003), “La mutación de enclaves urbanísticos en Buenos Aires”. Guadalajara (México): Revista Espiral, Estudios sobre Estado y Sociedad, Volumen IX (septiembre-diciembre); Universidad de Guadalajara; Departamento de Geografía y Ordenación Territorial; pp. 211-237.

© Guillermo Tella

En: Tella, Guillermo. (2012), “Un crack en la ciudad: rupturas y continuidades. Buenos Aires, Argentina”. Santiago (Chile): Revista Digital Plataforma Urbana, Sección Análisis Urbano y Territorial (junio 29).